quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A luz que vem da janela parece escuridão sem você na cama.


Eu te falei que eu não sabia ser de ninguém, desde o começo. 
Olha só o que a gente fez. Eu não sabia como te explicar o que sentia com nosso amor. Você me disse pra escrever, e eu nunca soube te entregar nas mãos nada além da folha em branco. Você me disse pra te demonstrar, e depois reclamava que minhas mãos estavam tao frias quanto o meu coração. Eu te ouvi dizer tantas vezes que a culpa foi sua, que foi você que se apaixonou por mim, mesmo sabendo de todas as minhas implicâncias, de todos os meus erros, e que nunca pediria nada além das madrugadas de beijos na cama que eu te dava, que nunca pediria nada além de minutos em silencio pra te deixar admirar o meu rosto. Eu aceitei todos os teus pedidos. Não recuei em nenhum de seus beijos, mesmo que não fizesse carinho em seus cabelos enquanto isso. Te neguei amor até a última palavra. Me neguei dor até a última lágrima que vi escorrer dos seus olhos. 
Stella, eu te vi fechar aquela porta. Eu te ouvi gritar pra todas as paredes da minha casa que você desistiu. Eu te ouvi chorar pra todas as cerâmicas que amor só é amor bonito se for recíproco. E eu não te respondi uma só vez. Eu te assisti ir embora, e não fiz como nos filmes que você me fazia assistir - talvez tentando fazer com que eu me inspirasse -. Eu não corri atrás de você enquanto a chuva caia forte lá fora, eu não segurei no seu braço, não te puxei e gritei tudo o que eu nunca disse. Não te supliquei que voltasse.
Agora eu te escrevo tudo. Talvez foi o baque da porta que me fez tremer, é o que eu acho. Apesar de que as lágrimas escondidas nos meus olhos, dizerem que foi porque ouvi o teu choro atrás da porta. A casa desabou no instante em que a porta bateu, amor. Eu nunca quis que você saísse da minha casa, e nunca quis acordar em outro quarto que não fosse o meu sem te ver toda desarrumada e com uma blusa minha escovando os dentes com a porta do banheiro aberta. Eu nunca quis enfeitar a casa com outra pessoa que não fosse você, ou com outro tema que não fosse o do almoço que você me fazia. Em particular, a comida chinesa, não pelo gosto, mas por adorar te ver sair pulando feito uma criança do quarto com uma maquiagem que fazia seus olhos parecerem puxadinhos pro lado. 
A casa desabou no instante em que a porta bateu, amor. E bem em cima de mim. A casa toda é só solidão, aqui dentro, e lá fora. Passar o dia todo aqui nessa cadeira com um maço de cigarros do lado escrevendo sobre qualquer coisa, e agora tudo que escrevo é sobre ti. Eu ligo a tv pra distrair, e tá passando o filme daquela menina que tem os teus olhos. Eu mudo de canal, e tá tocando a música que tu cantou pra mim naquela vez em que a energia foi embora. Agora foi a vez da minha energia, porque toda a que eu tinha era pra ti. Porque quando eu tomava banho, eu saia e suspirava ao te ver sentada no sofá, lendo um livro, com um copo de café na mão. Eu devia ter ido na sua casa. Eu devia ter te ligado. Eu devia ter feito qualquer coisa, e to te escrevendo essa carta. Que eu ainda vou precisar criar coragem pra deixar por baixo da tua porta. Eu te amo. E te amei desde o momento que te vi sentada na livraria lendo o meu livro preferido com a franja caindo nos olhos. Eu te falei que eu não sabia ser de ninguém, desde o começo. 
E fui de você, sem saber como. E eu pertenço a você, ainda assim.  

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