segunda-feira, 30 de julho de 2012

Dispersão.


Me perdi dentro de mim porque eu era labirinto. E hoje, quando me sinto, é com saudades de mim.
Passei pela minha vida um astro doido a sonha, na ânsia de ultrapassar, nem dei pela minha vida.
Para mim é sempre ontem, não tenho amanhã, nem hoje. O tempo que aos outros foge, cai sobre mim feito ontem.
Regresso dentro de mim, mas nada me fala, nada! Tenho a alma amortalhada, sequinha, dentro de mim.
Perdi a morte e a vida, e, louco, não enlouqueço. A hora foge vivida, eu sigo-a, mas permaneço...
Quando olho pra mim, não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir,
que me extravio às vezes ao sair
das próprias sensações que eu recebo.


O ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem ao meu modo de existir
E eu nunca sei como hei de concluir 
As sensações que a meu pesar concebo.


Nem nunca propriamente reparei
se na verdade sinto o que sinto. Eu
serei tal qual pareço em mim? Serei
tal qual me julgo verdadeiramente?


Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu
nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Estupidez.

Posso lhe dizer que estou cansada de tudo isso. De toda essa mesmice, e sobre a burrice, ou qualquer estupidez. Sobre o que esse humanidade acabou por deixar sumir exatamente isso: a humanidade.
Fica aqui exposta a minha vontade de me rasgar, reconstruir por dentro, colocar as peças em lugares diferentes.
E tu dizes por aí a todo mundo que tua vida é muito rotineira. Ou talvez, diga que nem todo dia é o mesmo. 
A pergunta que roda por aqui é essa: e do que adianta?
Tu acordas, e age como robô. Escova teus dentes, toma teu café da manha. Faz tuas coisas, e no final do dia, volta para o mesmo lugar de onde saiu: a cama. Teus sentimentos explodiram durante o dia, tanto para a alegria, quanto para a tristeza. Tal é a mente robótica que se proibiu de tentar algo novo.
"Conto aqui minha história. Todo dia eu penso em mudar. Todo dia eu penso em trocar de pele, de alma. Todo dia eu quero ser um novo alguém. E durante a noite, me foco no pensamento que daqui pra frente tudo será diferente. Vou buscar novos lugares pra ir, desligar o celular, jogar o computador pela janela.
Comprar um piano, transformar meu escritório em uma biblioteca. Trocar as pessoas do meu dia a dia pela companhia com a alma. Mas de fato, o que adianta?! O dia amanhece, e toda a minha força desaparece. Toda a minha vontade se esconde. É isso. De nada adiantar fazer planos, se no fim, força e fraqueza se tornam a mesma coisa. E a rotina por aqui continua, o relógio passa, tenho de fazer meus compromissos..."
Humano, tu te deixaste levar. Teus momentos de lucidez se passam em poucos minutos, e dos quais logo tu se esquece. A salvação que tu tanto quer, não vai vir. Não vai te adiantar de nada. 
Pessimismo? Não diria isso, apenas a verdade. Quantas vezes você já levantou da cama, comeu o que queria, andou pela rua que não conhecia? Tente esquecer em que ano estamos. O que mudaria dentro de si se não fosse quem tu és? 
Enxuga teu rosto, a mudança vem primeiro de dentro. Mostrar-se por dentro é tao raro quanto bocejar por vontade própria. A matriz é você. Diz agora aí pro mundo o que hoje tu se tornou.
Dizem que a loucura tomou conta de ti. Eu digo que você é estúpido. E eu sou do mesmo jeito. (Leia esse texto daqui a alguns dias. Alguns anos. Conte-me sempre o que mudou por aí. Deixa-me adivinhar: nada dentro de ti, sobre ti mesmo...) 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Tic Tac.



O tic tac do relógio começou a fazer sentido.
Tic.
Gosto dos teus olhos fixos em mim enquanto solto a fumaça do cigarro, e eles acompanham o meu andar cansado até o sofá de frente pra ti. Eu gosto de te olhar. Gosto da forma do teu corpo, de como seus lábios são. 
Tac.
Gosto do teu sorriso assim, meio torto, as vezes unilateral ao me ver segurar o lápis, e cruzar minhas pernas com o caderno entre elas. Teu silencio já sabe que as letras serão sobre ti. E tu, sabes que tu é o motivo de cada sorriso meu? 
Tic.
Gosto do cheiro do teu perfume misturado com o do café que tu me trouxe. Das tuas mãos em busca das minhas, e do arrepio que eu sinto com teu corpo mesmo tu estando sentado alguns centímetros de mim. Gosto de como tu move teus lábios dizendo que me ama. 
Tac.
Tua voz rouca quase enlouquece o meu corpo. Gosto de quando teu cabelo fica assim bagunçado, e de passar a ponta do meu dedo pela tua barba mal feita. Como eu poderia escrever, pensar, viver outra coisa que não fosse você quando tu estás assim perto de mim? 
Tic.
Gosto de cada movimento teu, e principalmente desse que tu faz de me tomar o caderno, o lápis, a voz, jogar pro canto, me tirar as letras, me transforma em toques. Teus toques, nossos toques. Tua mão passando pela minha cintura, e a minha quase que desenhando o teu rosto. O calor do teu corpo perto me tira todas as forcas, e eu me afogo em todo nosso amor, e te transbordo, te faço, te bordo.
Tac. 
Eu esqueci de escrever, e agora te digo. Que tu és além de tudo o que eu penso, a única coisa sobre a qual eu me importo. Que a cada dia que passa, eu só quero me perder, e me esquecer da rotina contigo. Que o mundo lá fora eu já quase nem visito, que eu fujo pra onde for se te tenho comigo. Meu próprio mundo, meu refúgio - assim deveria te chamar -. 
Tic tac.
Não me sussurra com essa tua voz de poesia que eu sou tudo o que tu queres, que eu me sinto dançar entre um mar de cores. Que os teus lábios se aproximando dos meus, ao meu ver me parece mais como o inalar e exalar sobre o qual eu não posso viver - nem quero evitar - sem. Não quero me manter longe dos teus lábios, da tua fala, do teu abraço apertado. Não quero perder um segundo de nossas vidas. Não quero ficar sem teu beijo que torna letra N, de "nós", que me torna letra A, de "amo você", que me torna todas as letras e um texto inteiro desde que largamos o café esfriando sobre a mesinha ao lado do sofá, e deixamos que o inale exale dos nossos lábios se mantenha, que o tempo se transforme em infinito. 
Infinito.
Gosto de cada letra que nos define.  

sábado, 7 de julho de 2012

O buraco é mais fundo do que pensei.

O gosto da vida é preto e branco. 
Devem existir outras opções. Não consigo pensar em nada agora. 
Existem, na verdade. O gosto da vida é o cigarro e o vinho. O vento e a chuva. É tudo amargo. 
Que injusto, é tudo injusto. 
Ocorreu um crime aqui. Injusto? 
Uma alma foi roubada. Assistir. Não trocar de canal. Remédio pra dor, você tem? Dor não sei aonde, mas arde. O céu tá chorando. Ninguém enxerga. Talvez isso seja sofrer, pelo simples fato de não saber o que mudar. "Caro é transforma-se num arremedo de si próprio a ponto de nem se reconhecer mais." Você sabe, não adianta ter o controle. Você tem que querer. Mudar o canal. 
Do que adianta essas asas? Eu tenho asas. Mas eu não quero aprender a voar. Nunca gostei de altura. Eu mal enxergo a mim, imagine aos outros? Quem enxerga a alma? Quem procura o que foi roubado? Já não sei como descrever tanto tempo. Toda manhã não é apenas uma qualquer.
Você parece um mundo paralelo de 2 horas ou mais ou menos, não parei pra cronometrar ainda. Não considero certo ou errado. O que há em ti é apenas silêncio, mas um silêncio barulhento. Enigma... Tenho vontade de conhecer mais gente de conversa. E tenho medo de conversas. 
Mudei de ideia, nem queria mais conhecer. Ninguém iria me ouvir. Quero um cigarro. O buraco é mais fundo do que eu pensei. Eu só caio. Nem lembro mais de quando foi a queda. Ninguém gostaria de mim se me conhecesse por dentro. Do avesso. Se me virassem, ao contrário. Mostrando a carne, as tripas, meu sangue pulsando. Não faz mais sentido. 
Sendo assim, sigo os passos que daria na escadaria escura, na noite mansa, tranquila, na turbulência apenas dos teus olhos aflitos, das nossas bocas secas, das mãos que procuram, de tudo que nossos corpos encontram de nós em nós. Sendo assim, enlouqueço só, pois sou tudo que fica colado, castigado e sem pressa. Como mil pedaços unidos num só lugar e que não se despedaça mais. Há tanta luz, sem a cor, não preciso manter o sorriso de antes. Sinta o pulsar constante, essa explosão emocional que desequilibra a razão até o tempo de acabar. Tudo e nada de uma vez só. As portas fecharam-se, acabei indo longe demais. 
Ninguém me chamou pra entrar quando as portas foram abertas. Eu sempre tive medo de arriscar. Existe alguém atrás de mim. Me segue aonde eu for. Talvez seja minha sombra, ou a parte de mim que eu evito conhecer. Evito tudo que tem a ver comigo. Tu és de tudo que foi, e nem sei se o que fica é tão claro e bonito quanto eu sinto que é. Esse lugar é exatamente onde eu deveria estar, talvez volte pelo rastro acolhedor de um último abraço, pelo calor de despedida. Tão sentida e leve que só com a alma se sente e se entende... Só não se entende o que sinto agora, me sinto pobre de explicações com palavras, isso me cala, me aquieta. 
Vou pra casa.